Os últimos meses de 2010 trouxeram um novo ânimo ao mercado, que sofreu com o comportamento atípico dos preços no ano que passou. A oferta, em excesso no 1º semestre, se ajustou a demanda em contínua expansão, em razão da queda dos preços na entressafra e, principalmente, atraso na safra do sudeste e centro-oeste.
Os preços ao produtor (Gráfico 1), segundo o Cepea-Esalq/USP, apresentaram consecutivas altas desde agosto e terminaram o ano, na média nacional, em R$ 0,7207/litro, cerca de 20% acima do valor de dezembro de 2009 (R$ 0,6024/litro). A média de 2010, foi de R$ 0,7055/litro, 5,8% acima da de 2009. Os preços no atacado e varejo também apresentaram seguidas altas desde agosto.
O mercado entrou em 2011 relativamente equilibrado e as expectativas em curto prazo são boas, segundo a opinião da maioria dos agentes de mercado consultados pelo MilkPoint. A produção nacional e os preços externos são os principais fatores a serem observados e determinarão o comportamento do mercado no primeiro quadrimestre do ano.
Gráfico 1. Preços ao produtor, média nacional do Cepea-Esalq/USP (em R$/litro).
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As festividades de fim de ano aliadas ao período de férias escolares resultaram em um enfraquecimento das vendas, pelo menos até a 1ª quinzena do ano, e redução dos preços no atacado, como ocorre historicamente nessa época do ano. Entretanto, segundo um dos agentes, “o mercado está calmo e deve retomar seu patamar anterior, sem dificuldade”.
Em termos de oferta, a safra no centro-oeste e sudeste, que sofreu um atraso, encontrou um cenário mais favorável: os preços ao produtor encontravam-se sob níveis maiores e com expectativa de melhoras; o desenvolvimento do pasto foi favorecido por maiores temperaturas; e o mercado estava mais firme e com preços em alta. A produção nessas duas regiões, e em especial Goiás e Minas Gerais, vem em uma crescente desde que iniciaram as chuvas.
Ironicamente, tem sido a chuva, nessa época do ano em excesso, responsável por prejudicar a captação, destruindo estradas e encharcando os pastos. Mesmo assim, há expectativa de bom volume de leite a nível nacional em janeiro e, em algumas regiões, também em fevereiro.
Aliado a oferta e demanda relativamente ajustadas no mercado doméstico, o mercado internacional tem sinalizado expressivas altas e com expectativa de maiores níveis de preços para os próximos meses (trataremos do panorama externo mais adiante). O cenário em curto prazo é, portanto, favorável.
Os preços ao produtor devem sofrer novo reajuste positivo em janeiro, sinalizado pela elevação do preço do leite spot em algumas regiões já nessa 1ª quinzena, e explicados pela restrição da oferta em algumas regiões e uma possível estratégia da indústria de se abastecer de leite nesse período, diante de uma maior redução na entressafra e preços externos favoráveis. Se esse cenário se confirmar, a preocupação da quase totalidade dos agentes de mercado consultados pelo MilkPoint é de que teremos outro 2010.
Em um cenário pessimista, os preços ao produtor teriam nova escalada no início do ano estimulando um crescimento da oferta. A demanda, com aumento dos juros, restrição de créditos, e menor crescimento da economia que em 2010, poderia desacelerar o crescimento do consumo.
O real continuaria se valorizando frente ao dólar, e a moeda americana a perder valor frente às moedas locais, favorecendo as importações de lácteos e dificultando as exportações. Mesmo com os preços externos em alta (na faixa dos US$ 3.775/tonelada de leite em pó integral), o câmbio próximo a 1,7 R$/US$, e o preço ao produtor acima de 70 centavos por litro, praticamente inviabiliza essa operação (Tabela 1).
Em outras palavras, teríamos uma continuidade do crescimento da oferta de leite no mercado interno sem a possibilidade de retirar o excedente, como no ano passado (veja matéria relacionada sobre a balança comercial em 2010).
O resultado seria: (novamente) queda dos preços na entressafra, até um novo equilíbrio entre oferta e demanda – no ano de 2010 ocorreu entre setembro e outubro.
Tabela 1. Simulação preço máximo para exportação.
Em um cenário positivo, os preços ao produtor teriam nova escalada no início do ano. A oferta teria um menor crescimento inicial, limitado pela contínua alta dos insumos, e entraria em declínio em fevereiro, resultando em um mercado mais ajustado. A demanda, com a manutenção dos programas de governo, aumento de renda da população e movimento de ascensão das classes sociais, elevaria o crescimento do consumo.
Os preços externos em alta e um possível ajuste na taxa de câmbio fariam com que as exportações fossem retomadas. Com as importações limitadas, teríamos uma balança comercial mais favorável do que foi no ano anterior.
De fato, os preços no mercado externo estão sob níveis historicamente altos (Gráfico 2). No primeiro leilão da Fonterra do ano, o preço médio do leite em pó integral (WMP) teve alta de 3,8% e alcançou o valor mais alto desde junho de 2009, fechando em US$ 3.750 a tonelada. O contrato para o 3º período, de julho a setembro, apresentou significativa alta de 10,3%. Mesmo patamar dos preços de exportação de leite em pó da Oceania e Oeste da Europa, divulgados recentemente pelo USDA, que ficaram em US$ 3.737,5/t e US$ 3.837,5/t, respectivamente.
As expressivas altas nos preços internacionais têm ocorrido em razão de adversidades climáticas em importantes exportadores, principalmente, a Nova Zelândia, e crescente demanda por produtos lácteos pela Rússia e China. O gigante asiático enfrenta problemas de desenvolver seu mercado doméstico, em razão do caso da melamina, e deve continuar como uma importante importadora de produtos lácteos por um bom tempo.
Gráfico 2. Preços de exportação de leite em pó integral.
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O resultado seria: um comportamento historicamente normal da curva de preços, com um crescimento no preço médio correspondente à inflação, e uma amenização na volatilidade, seguindo tendência dos últimos três anos.
É ainda muito cedo para fazer alguma previsão, 2011 está só começando. Os dados, que serão divulgados na próxima Pesquisa Trimestral do Leite (IBGE), irão nos mostrar qual foi a produção total leite (formal) em 2010 e, principalmente, a produção no último trimestre do ano. Esses dados serão importantes para entendermos como estará a oferta nesse início desse ano.
Em suma, o início de ano segue o comportamento do fim de 2010. Para os próximos meses, a produção e a retomada da demanda com a volta às aulas devem ditar o ritmo do mercado. Os preços externos nesses elevados patamares podem sinalizar a retomada das exportações, seria mais uma maneira de tornarmos o mercado mais equilibrado em 2011. Nesse sentido, a variação da taxa de cambio e os preços no mercado doméstico terão um papel importante.