Notícias 24.11.09

Importações – Os números preliminares da média diária de novembro de 2009 das importações de leite e derivados, em dólar, são 1,28% maiores que a média de outubro de 2009. Veja no quadro as médias, considerando apenas os dias úteis das importações efetivas em dólar.

 

 

Piracanjuba – Buscando atrair mais investimentos e geração de emprego, uma comitiva chefiada pelo prefeito de Confresa (MT), visitou as instalações do Leite Piracanjuba, em Bela Vista de Goiás (GO). A empresa poderá ser a ponta da venda, que faltava para o fechamento da cadeia produtiva do leite. O programa Balde Cheio, que já está sendo implantado no município, prevê um aumento expressivo na produção de leite. Os agricultores familiares começam trocar o “gado branco”, de corte, por vacas de leite. A seriedade dos proprietários do Piracanjuba motivou os vereadores a aprovarem a Lei 057/2009 enviada pelo executivo municipal, concedendo uma área de 13 mil metros quadrados em comodato e permitindo ampliações de uma estrutura e equipamentos que já existe no local, porém sem nunca ter funcionado. Com o nome de Laticínios Alto Boa Vista Ltda, a unidade funcionará nesta estrutura inicial até atingir uma captação de 100 mil litros por dia, quando en tão construirá uma nova fábrica com capacidade para 500 mil litros/dia. (Agência da Notícia)

Italac – A Italac foi homenageada pela Assembleia Legislativa por seus 15 anos. Fundada em 1994, a Goiásminas, Indústria de Laticínios Limitada, detentora da marca Italac Alimentos, está entre as cinco maiores empresas de laticínios no País. Em 1998, entrou no mercado de leite fluido lançando o leite longa vida. Hoje, a empresa tem unidades processadoras de leite e de fabricação de queijos em Minas Gerais, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Rondônia. Em Goiás, a empresa vai investir R$ 15 milhões para dobrar a produção de leite condensado em Corumbaíba, onde são processados diariamente, 1,4 milhões de litros de leite. A Italac gera 600 empregos diretos no Estado e, em todo Brasil, 20 mil famílias de trabalhadores dependem direta ou indiretamente da Italac. Atualmente, a capacidade total de processamento atinge 4,1 milhões de litros de leite/d ia. Cláudio Teixeira agradeceu, em nome dele e dos irmãos, o título de Cidadão Goiano. (O Popular/GO)

Paraíba – O Cariri paraibano, a região que mais contribui para a Paraíba figurar como maior produtor de leite de cabra no País, quase 600 mil litros por mês, começa a diversificar os negócios, com o contrato fechado pela Cooperativa Agro-Industrial (Coagril) com supermercados de João Pessoa e Campina Grande. Eles vão comercializar derivados do leite caprino como queijo e, até o final do ano, doces e iogurtes. “A meta até dezembro é chegar com os nossos produtos em 20 estabelecimentos comerciais nas duas principais cidades do Estado, incluindo uma grande rede de supermercado”, adianta o presidente da Coagril e produtor, Aldo Sales. (Sebrae/PB)

Merenda – Produtores do município de Mesquita, no Leste de Minas, atendidos pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), estão comercializando leite para creches e escolas públicas. A iniciativa é inédita, pois são os primeiros produtores em Minas Gerais a vender produtos do segmento agricultura familiar, de acordo com a chamada Lei de Alimentação Escolar. A Lei nº 11.947, do Ministério da Educação (MEC), que entrou em vigor em junho, estabeleceu que escolas públicas terão de destinar 30% dos recursos da merenda escolar para a compra de produtos da agricultura familiar. O fornecimento de leite em Mesquita está sendo garantido por 17 pequenos produtores, organizados em uma associação local. (Secretaria de Estado de Governo/MG)

Preço – Segundo a extensionista da Emater-MG de Mesquita, Fernanda Ataíde, a vantagem de vender o leite para as escolas é que o preço do produto é melhor. “Nas cooperativas e nas feiras o leite é comercializado a R$ 0,65 o litro, enquanto nas escolas é vendido a R$ 1,30”, conta. Para Ataíde, a principal dific uldade é a falta de estímulo à produção. “No período de chuva o preço cai ainda mais. E muitos produtores preferem deixar de comercializar nesta época o leite in natura, para fabricar derivados como iogurte, manteiga, requeijão, entre outros”, informa. De acordo com Ataíde, escolas e creches têm até o mês de dezembro deste ano para se adequarem à nova lei. (Secretaria de Estado de Governo/MG)

Leite Orgânico – O leite orgânico promete deixar para trás, em termos de volume e qualidade, a produção convencional de leite na região de Maringá. A pesquisa desenvolvida há 13 anos por Marcos Alberto Seghese, professor e engenheiro agrônomo do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), é conhecida por Sistema de Pastejo Rotacionado Racional (Sispasto). Composto de 14 piquetes, com 1,3 m2, com gramíneas de várias espécies, o Sispasto pode fazer com que 20 vacas produzam aproximadamente 400 quilos de leite por dia. Seghese informa que a alta produção se deve, principalmente, a policultura de gramíneas e leguminosas que fornecem proteína suficiente para o animal produzir leite de boa qualidade e em quantidade. Segundo ele, os concentrados têm os mesmos 18% de proteína. “A diferença está no fato de que o produtor de leite planta o pasto e não precisa deixar suas economias no comércio para pagar o concentrado. Além disso, o leite é limpo, não tem produtos químicos”, compara. (O Diário/Norte do Paraná)

Conaprole – A melhora nos preços internacionais de leite está começando a repercutir favoravelmente no Uruguai. No mês de outubro a Cooperativa conseguiu faturar cerca de 26 milhões de dólares. José Noel Alpuín, presidente da Associação Nacional de Produtos de Leite, disse que é uma boa notícia a Conaprole estar comercializando seus produtos com os novos valores, e o ânimo do produtor é outro. De acordo com Alpuin, o setor espera que os bons preços internacionais cheguem a os produtores nos próximos meses. (El Espectador)

UE – De acordo com a Comissária da Agricultura, Marian Fischer-Böel, o setor lácteo está bem, tanto na Europa, como no mundo. Todos os preços dos produtos lácteos, no mercado comunitário, estão agora mais altos do que em junho: manteiga (30%), leite em pó desnatado (26%), leite em pó integral (29%), queijos (11%) e soros (60%). Os preços aos produtores também já subiram. Em outubro, segundo Fischer-Böel, as indústrias já estão pagando entre € 0,30 e € 0,31, em média, reajustes de 20 a 25% em relação a junho. Em alguns países os preços são até maiores, como na Itália € 0,35/kg e na Holanda € 0,34/kg. No mercado internacional a tendência é a mesma. Na Nova Zelândia a Fonterra já está pagando € 0,235 o litro, o que é o segundo maior preço já pago pela cooperativa. Nos Estados Unidos os preços do leite estão subindo, junto com o desaparecimento dos estoques de intervenção. (Agrodigital)

 

Negócios

Bertin – Em seu último balanço antes da incorporação pela JBS S.A., a Bertin S.A. divulgou que teve um lucro líquido de R$ 40,9 milhões no terceiro trimestre deste ano, revertendo um prejuízo de R$ 395 milhões registrado em igual intervalo de 2008. “Os resultados foram bons”, disse Fernando Falco, diretor de lácteos da Bertin. De acordo com Falco, a desvalorização do dólar ante o real ajudou a Bertin a reverter o prejuízo do terceiro trimestre de 2008, que havia sido causado pela forte alta do dólar em decorrência da crise financeira global. A divisão de lácteos também contribuiu para o resultado. As vendas cresceram 14,7% em volume enquanto a receita líquida subiu 16%, para R$ 239,3 m ilhões, segundo a empresa. Entre os motivos para o crescimento estão a maior presença da empresa no varejo do Nordeste e a ampliação do portfólio de produtos da divisão, comercializados com a marca Vigor. (Valor Econômico)

Unilever – A Unilever, segunda maior fabricante de bens de consumo do mundo, divulgou que ainda tem € 2 bilhões (US$ 3 bilhões) em caixa para gastar com aquisições, segundo a Bloomberg. “Estamos de olho em novos negócios para acelerar nosso crescimento”, disse Jim Lawrence, diretor financeiro da multinacional. (Valor Econômico)

Hipermercados – Os hipermercados estão ficando cada vez mais parecidos com os shopping centers. Transformar essas grandes lojas em minicentros comerciais, com direito a cinema, academia de ginástica, McDonald’s e cabeleireiro, foi a saída encontrada pelas grandes cadeias, como Carrefour, Extra (Grupo Pão de Açúcar) e Walmart. Desde a estabilizaç ão da economia e o fim da hiperinflação, nos anos 90, os hipermercados começaram a perder a preferência dos consumidores. Ninguém quer mais passar horas em um hipermercado uma vez por mês, se pode fazer compras semanais em supermercados perto de casa – e pelo mesmo preço. De acordo com a Nielsen, entre 2002 e 2008, a participação dos hipermercados na venda de 157 categorias de bens de consumo caiu de 6% para 4%. Neste mesmo período, o pequeno varejo avançou de 37% para 38,5%. (Valor Econômico)

Cadbury – A Cadbury aproveita na bolsa, a guerra de ofertas. Os interesses pela britânica se multiplicam. Especula-se que a possível melhora da oferta do consórcio Hershey-Ferrero deve vir acompanhada da entrada da Nestlé no páreo. A gigante suíça negocia com os bancos, alternativas de financiamento para efetuarem uma possível oferta. O interesse pela Cadbury continua traduzindo-se em maior interesse dos investidores. As ações podem ser valo rizadas em até 2%, chegando ao seu maior valor, obtido em junho de 2007. (Diario Finaciero)

Arla – A filial britânica da cooperativa sueco-dinamarquesa, Arla, tem planos de construir o maior laticínio de leite fluido do mundo, que deverá começar a operar em 2012. A fábrica que deverá ser instalada em torno de Londres deverá processar um bilhão de litros de leite, que representa 9% de todo o leite cru produzido na Inglaterra em um ano. (Agrodigital)

 

Setoriais

Perdas/RS – O governo do Estado finalizou ontem levantamento das perdas causadas pelas chuvas. Segundo o documento, a área de arroz será reduzida em 50 mil hectares, o que deverá contribuir para a queda de 10% na safra gaúcha (800 mil toneladas). Na soja, o relatório indicou dano ao plantio e necessidade de replantar em 3% da área. Nos hortigranjeiros, o prejuízo chegou a 50% no Vale do Caí, onde foram dizimadas lavouras de alface, couve-flor e brócolis. Na pecuária, o governo indicou morte de gado por afogamento em várias regiões e projetou arrefecimento na curva ascendente de produção de leite. (Correio do Povo/RS)

Alimentos/PE – Levantamento realizado pela Superintendência Regional da Conab em Pernambuco mostra que, do início do ano até o dia 11 deste mês, cerca de 300 instituições filantrópicas e movimentos sociais do estado receberam mais de 2 mil toneladas de alimentos doados pela Conab. Os produtos, como leite, arroz, feijão, açúcar e farinha de mandioca, são do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) da agricultura familiar. (Conab)

Cuiabá Leite – O Mato Grosso é o est ado que possui o maior rebanho bovino do País, mas, centenas de pequenos produtores se desdobram para conseguir uma produção de qualidade para subsistência. Para combater o êxodo rural, gerar renda e dar mais qualidade de vida aos pequenos pecuaristas da Capital, a Prefeitura implantou o projeto Cuiabá Leite. Mais de 80 pequenos produtores aderiram ao projeto, que trabalha com o melhoramento genético das vacas. Os primeiros bezerros já estão nascendo. Foram 89 matrizes inseminadas. O próximo passo é a preparação para uma produção profissionalizada, rentável. (CircuitoMT)

Soja/EUA – As exportações norte-americanas de soja já estão projetadas em 35 milhões de toneladas na safra 2009/10. Desse volume, 9 milhões já foram embarcados, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Do volume projetado de exportações, 26 milhões já têm destino certo, 9,6 milhões a mais do que em igual período do ano anterior, segundo a c onsultoria Céleres. (Folha de SP)

Economia

Balança – A balança comercial brasileira obteve superávit comercial de 345 milhões de dólares na terceira semana de novembro. O valor resulta da diferença entre a soma das exportações, 2,907 bilhões de dólares, e o total das importações, 2,562 bilhões. O valor indica que o saldo comercial continua se recuperando. Com esses resultados, o superávit acumulado neste mês de novembro, até a semana passada, já chegava aos 363 milhões de dólares. (Correio do Povo/RS)

 

Globalização e Mercosul

Exportação – O Brasil continuou a ampliar sua fatia no comércio agropecuário internacional na década encerrada em 2007, enquanto concorrentes como Estados Unidos, União Europeia, Austrália e Argentina perderam mercados, segundo levantamento da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a participação de seus membros no comércio desse setor. O estudo também mostra que novos países entraram recentemente na lista dos grandes exportadores, como Índia (açúcar e carne bovina), Ucrânia (grãos), Bielorússia (leite em pó desnatado), China (leite em pó integral) e Chile (frutas e legumes). E há exportadores tradicionais em novos nichos, caso do fortalecimento americano no mercado de manteigas. De modo geral, as exportações agropecuárias globais triplicaram no intervalo de 20 anos até 2007, último ano com todos os dados disponíveis. (Valor Econômico)

 No comércio de leite desnatado em pó, Nova Zelândia e EUA aumentaram suas fatias nas exportações, enquanto UE e Austrália perderam. A Bielorússia aparece como novo e xportador, com sua fatia subindo de 1% para 5,3%. No leite integral em pó, o Brasil saiu de zero para 2,4% das exportações mundiais entre 1999 e 2007. A Nova Zelândia quase duplicou sua parte, para 39%, enquanto a UE viu a sua cair pela metade, para 20,8%. A Argentina também perdeu mercado, mas a China ganhou. Os EUA entraram na lista dos principais exportadores de manteiga com 5,1% das exportações em 2007, ante 0,5% em 1999. A Argentina cresceu, e a Nova Zelândia controla quase a metade do comércio mundial. No mercado de queijos, a surpresa é o surgimento da Arabia Saudita como grande exportador. O país tinha 0,1% das exportações em 1999, e em 2007 a participação subiu para 7%, mais que EUA (5,4%) e Argentina (2,4%). (Valor Econômico)

Agricultura – O Banco Mundial projeta mais do que duplicar seus empréstimos para a agricultura de países em desenvolvimento. Entre 2006 e 2008, a média anual foi US$ 4,1 bilhões, e de 2010 a 2012, e ssa média deverá saltar para algo próximo de US$ 8,3 bilhões. Participando como observador do Comitê de Agricultura da Organização Mundial do Comércio (OMC), o banco alertou que, embora as matérias-primas tenham recuado em relação às máximas históricas registradas em meados do ano passado, pouco antes do aprofundamento da crise financeira global, as cotações continuam voláteis. (Valor Econômico)

Alimentos – Nesse cenário, os preços dos alimentos em diversos países permanecem substancialmente mais elevados do que em anos anteriores. Muitos analistas acreditam que, no longo prazo, a oferta crescerá e ajudará a conter fortes elevações como a que resultou nos recordes de 2008, mas há quem veja nos preços atuais um patamar que pode se consolidar por conta do crescimento dos emergentes. O Banco Mundial chama a atenção para os efeitos negativos desta alta de preços, vinculando a situação com o menor consumo de calorias, o avanço da má nut rição e mesmo de uma alimentação miserável. Assim, a instituição volta a preconizar a liberalização do comércio agrícola mundial, inclusive porque os desafios para a segurança alimentar vão persistir por um bom tempo. O banco reclama que os pesados subsídios em países ricos têm deprimido a produção em países em desenvolvimento, e que por isso é mais do que nunca necessário concluir a Rodada Doha de negociações globais. (Valor Econômico)

Conseleite

 

Valor de Referência do leite para Outubro e Valor projetado para Novembro.

 

As indústrias e os produtores de leite, reunidos no Conseleite RS, anunciaram o valor de R$ 0,5252 para o mês de Outubro, como  indexador para os negócios do leite. O valor foi obtido, após estudos confeccionados pela UPF – Universidade de Passo Fundo, tendo como referência o leite padrão (Base Instrução Normativa 51 do Ministério da Agricultura). Este valor foi homologado hoje (23/11) em Porto Alegre, pelo Conselho Estadual do Leite – CONSELEITE – que é um órgão paritário formado pelas indústrias através do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul – SINDILAT/RS, e pelos produtores de leite, representados pela Farsul, Fetag, Gadolando, Associação dos Criadores de Jersey e Fecoagro. O Conseleite divulgou ainda a tendência do valor de referência para o mês de Novembro, que é de R$ 0,5195.

 

Matéria-prima

Valores Projetados para Outubro/09

Valores Finais em

Outubro/09

Valores Projetados para Novembro/09

I – Leite acima do padrão

0,5899

0,6039

0,5975

II – Leite padrão

0,5130

0,5252

0,5195

III – Leite abaixo do padrão

0,4617

0,4726

0,4676

 

Reflexões sobre 2009 e perspectivas para o setor lácteo em 2010  

O ano de 2009 se iniciou repleto de incertezas. Qual seria a extensão da crise econômica que havia eclodido há três meses, e quais seriam os reflexos da mesma? Ficaria a economia do país seriamente fragilizada, e o crescimento visto nos últimos anos, estagnado ou até comprometido? Dúvidas não faltavam.

No setor lácteo, a situação também não era animadora. Os produtores encontravam-se desestimulados – em função da queda nos preços do leite no segundo semestre de 2008 – e o mercado internacional mostrava, mês após mês, queda no preço das commodities, chegando a valores próximos aos praticados em 2006. Do lado da indústria, no ano de 2008 os investimentos no Brasil foram maciçamente voltados à produção de leite em pó – em função dos altos preços no mercado mundial e na expansão das exportações -, com construção de torres de secagem e ampliação de unidades processadoras. Na visão de muitos analistas internacionais, os preços não deveriam voltar a cair, devido a um forte desabastecimento do mercado, ausência de estoques e demanda crescente por países emergentes. Mas os altos preços de 2007 e 2008 estimularam a produção e isso, com a queda na demanda em função da crise, forçou os preços para baixo.

As previsões, então, não se confirmaram. O mercado internacional começou a dar sinais de desaquecimento já no 2º semestre de 2008, o que foi imediatamente repassado ao produtor nacional. Desestimulado em função dos preços e ressabiado em relação ao cenário de economia instável, o produtor reduziu seu volume de produção, resultando numa queda histórica de 4,52% no 1º semestre deste ano comparado ao mesmo período de 2008 (produção inspecionada), como mostra o gráfico 1. Quando comparado o segundo trimestre de 2009 ao mesmo trimestre de 2008, a queda chega a 8,7%. Mesmo em outros períodos de crise, esse fato não havia sido registrado, sendo que no passado recente a produção do primeiro semestre de um ano vinha sempre mostrando crescimento em relação ao 1º semestre do ano anterior.

Gráfico 1. Variação da captação inspecionada entre primeiros semestres de anos consecutivos.

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Os baixos preços internacionais, aliados à valorização da moeda brasileira frente ao dólar, criaram uma situação desfavorável às exportações – que ficaram praticamente zeradas em alguns meses do ano – além de propiciar a retomada das importações (já que, com preços baixos e moeda valorizada, ficou muito mais atrativo trazer produto de fora, principalmente dos países do Mercosul, pela ausência de tarifas de importação). E foi exatamente o que aconteceu: o saldo da balança comercial de lácteos no 1º trimestre ficou negativo em cerca de US$ 11 milhões. No período, foram importadas 27 mil toneladas de leite em pó (21,5 mil provenientes da Argentina e 5,5 mil toneladas do Uruguai). Para conter esse movimento, o governo brasileiro impôs medidas restritivas à importação de lácteos – através do licenciamento não automático – determinando limites e preço mínimo para o leite em pó vindo da Argentina e do Uruguai.

Com isso, o preço pago ao produtor brasileiro se descolou dos preços internacionais, chegando a superar até mesmo os preços europeus (Gráfico 2).

Gráfico 2. Preço do leite ao produtor em diversos países (US$/litro).

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Os preços seguiram a dinâmica do mercado interno, onde a crise não se mostrou intensa no setor de alimentos e bebidas. Uma pesquisa da LatinPanel sobre consumo mostrou que o maior crescimento em volume, no 1º semestre, ocorreu nos alimentos, com um aumento de 15% ante o primeiro semestre de 2008.

Outro ponto de destaque, neste ano, está relacionado ao leite longa vida. Com aposta plena das empresas na produção de leite em pó – impulsionado pelos altos preços de 2007 e 1º semestre de 2008 -, o leite longa vida teve sua produção reduzida, com o agravante de algumas empresas importantes do segmento estarem endividadas e até mesmo em recuperação judicial. Com isso, o ano de 2008 terminou superofertado de leite em pó e com pouco volume de leite UHT. Com consumo mantido e produção reduzida, a demanda por leite longa vida foi impulsionada, e o produto começou a disparar de preços no atacado (veja no gráfico 3). As empresas iniciaram uma corrida por leite, elevando os preços ao produtor. Esse aumento de preços no atacado – ocorrido a partir de abril – só foi chegar ao produtor mais evidentemente em junho, quando os preços no atacado atingiam o seu pico, já perdendo força daí em diante. Vale ressaltar que a variação de preços do leite UHT (diferentemente dos queijos) é mais tolerada por parte do consumidor, que apesar de fazer substituições e reduzir o consumo, dificilmente deixa de comprar o produto. Desta forma, com demanda mais inelástica, o produto aceita preços mais altos antes do consumo declinar.

Gráfico 3. Preços dos lácteos no atacado.

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Com a elevação dos preços, em algum momento afetando a demanda, e com a recuperação antecipada da oferta no Centro-Oeste e Sudeste os preços dos lácteos mostraram queda, principalmente o leite longa vida e os queijos. Ao produtor, o pagamento de outubro veio com queda de 5,9% em relação ao mês de setembro, no valor de R$ 0,6984/litro. Para o pagamento de novembro (referente ao leite de outubro), 85,5% dos representantes das empresas pesquisadas pelo Cepea falam em nova redução. Em relação à oferta, o aumento da produção de leite no 4º trimestre não deve ser tão expressivo quanto nos anos anteriores, em função da antecipação das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste e também às dificuldades dos produtores em relação aos custos de produção.

No mercado internacional, os preços estão em ascensão, mostrando reajustes mais significativos nos últimos dois meses, como mostra o gráfico 4. No Oeste da Europa, a tonelada do leite em pó integral já chega próximo aos US$ 4.000, e a US$ 3.500/ton na Oceania. Os leilões da Fonterra através de sua plataforma de vendas online, globalDairyTrade, acumulam alta de 49% nos últimos 3 meses, sendo que a média dos contratos do leilão de novembro ficou em US$ 3.437/tonelada.

Gráfico 4. Preços do leite em pó integral no Oeste da Europa, Oceania e nos leilões da Fonterra (US$/tonelada).

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Os principais países produtores verificaram menor crescimento da oferta em 2009 (alguns até com queda, como o Brasil), reflexo dos preços baixos das commodities lácteas. Além disso, os custos de produção mais altos também implicaram na redução: segundo dados do relatório do IFCN, apenas 2% do leite mundial pode ser produzido ao custo de US$ 0,20/litro, que seria o preço de equivalência do mercado internacional no início do ano. Além disso, problemas climáticos prejudicaram a produção na Oceania, sendo que o volume produzido nos 3 primeiros meses da estação 2009/10 na Austrália e na Nova Zelândia estão 4% e 2% inferiores, respectivamente, em relação ao ano anterior.

O que esperar para 2010?

Ao que se pode ver até agora, a perspectiva para 2010 é positiva.

Se os preços externos continuarem subindo ou ao menos se mantiverem nos níveis atuais, as empresas brasileiras já podem pensar em voltar a exportar. A Tabela 1 mostra o preço de equivalência entre o leite em pó no mercado internacional e o preço ao produtor. Com câmbio de R$ 1,80 e US$ 3.500/tonelada, cerca de R$ 0,64/litro seria o preço de equilíbrio. Em apresentação do USDEC – Dairy Outlook 2010, Mark Voorbergen, do Rabobank, acha que os preços das commodities no final deste ano serão um indicativo do valor médio para o ano de 2010, apesar do mercado internacional se mostrar muito volátil ultimamente.

Mantido este cenário de oferta controlada, retomada da economia mundial (nova previsão do FMI aponta que o PIB mundial em 2009 deve crescer 3,1%, versos queda de 1,1% na previsão anterior) e crescimento do consumo (principalmente em países emergentes), pode continuar a ocorrer elevação de preços no 1º semestre de 2010, apesar de analistas internacionais acreditarem que os sinais não são tão claros assim: na opinião do especialista do Rabobank, os estoques europeus só serão eliminados no segundo semestre de 2010, além do fato da demanda ainda não ter crescido consistentemente no mundo, sendo hoje puxada principalmente pelos países asiáticos. De qualquer forma, dois sinais positivos: primeiro, a União Europeia zerou novamente os subsídios às exportações, prática que normalmente vem associada a preços em recuperação; segundo, a Fonterra elevou seu pagamento para esta estação.

No Brasil, com o país saindo da crise e se fortalecendo, as operações para consolidação do setor lácteo podem ser retomadas, com novos investimentos e possível retomada da corrida por leite. Na Europa, com as empresas em condições mais estáveis, também é esperada uma nova onde de fusões e aquisições no setor, principalmente se analisarmos o cenário para os próximos 5 anos.

É evidente que há diversas variáveis que podem mudar essa previsão: se a crise tiver mais uma perna, como muitos acreditam, ou se a oferta de leite responder mais rapidamente ao aumento de preços do que o esperado, essa tendência de alta pode não se concretizar; se a oferta interna crescer significativamente nos próximos meses – o que não acreditamos – talvez demore mais para termos o alinhamento com os preços externos. E há sempre o aspecto cambial que, aparentemente, não trará grandes novidades.

O cenário mais provável, no entanto, aponta para um 2010 promissor para o setor.

Tabela 1. Valor máximo valor a ser pago ao produtor (R$/litro), considerando o câmbio e preços internacionais do leite em pó.

 

Associação das Pequenas e
Médias Indústrias de Laticínios
do Rio Grande do Sul

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