Nestlé financia fornecedores para evitar demissões.

 

O aperto no crédito que a crise gerou em 2008 atingiu até a Nestlé do Brasil. Mas não foi a subsidiária brasileira da maior empresa de alimentos do mundo o alvo da falta de liquidez. Ao contrário, a multinacional suíça conseguiu cumprir sua meta e teve crescimento real acima de 3% e planeja chegar a 4% em 2009. O problema aconteceu com os fornecedores da Nestlé.

Por isso, pela primeira vez em seus 88 anos de Brasil, a companhia iniciou uma operação de crédito combinado com bancos para ajudar essas outras empresas. “Estamos descontando as duplicatas de nossos fornecedores com os bancos. A Nestlé fica como avalista e a condição para instituição financeira é que ela cobre, do fornecedor, os juros (menores) que cobraria da companhia”, explica o presidente da Nestlé Brasil, Ivan Zurita.

A empresa está, no momento, financiando entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões para fornecedores, que no total são 44 mil. A Nestlé, entretanto, não informou quantos estão usando essa linha de crédito. “Há grandes fornecedores e pequenos também”, disse.

O objetivo da Nestlé com essa ação, segundo Zurita, é evitar problemas financeiros na cadeia produtiva que possam gerar desemprego. A companhia tem 18 mil empregados diretos no país e 220 mil indiretos. “Nossa responsabilidade maior é manter esses empregos”, afirma Zurita. Para isso, segundo ele, manter as vendas crescendo é imprescindível. “Nossa estratégia para isso é manter as aquisições, ter agressividade comercial, lançar inovações e investir em comunicação. Vamos atacar em todas essas frentes muito fortemente para compensar baixas que possam ocorrer no consumo geral. É por isso que a maior ameça que existe hoje para a Nestlé é o desemprego”, declara.

Em dezembro, a Nestlé comprou duas fontes de água mineral e lançou a marca Aquarel. Essa aquisição, e outra (cujo nome da empresa em vista continua em segredo), haviam sido anunciadas em setembro. “Essa segunda aquisição ainda não saiu não foi por conta da crise”, diz. Segundo ele, a operação de ‘due diligence’ (análise e avaliação detalhada de informações e documentos pertinentes a uma determinada empresa) na companhia foco da aquisição se estendeu mais do que o esperado. Ainda não há previsão de quando o negócio será concluído.

Mas além dessa aquisição, outras virão, diz Zurita. “Vamos manter nosso plano de adquirir outras empresas para crescer pois essa é a maneira mais rápida de alcançar esse objetivo”. Segundo ele, a mudança cambial fez com que as companhias passassem a valer menos, o que favorece a compra pela Nestlé.

Para essas compras, a empresa tem este ano R$ 350 milhões, que serão usados também na expansão das 28 fábricas da companhia. A primeira delas é a de Feira de Santana, na Bahia. “Estamos ampliando ainda mais essa planta porque a resposta do mercado naquela região tem sido muito boa.” Segundo ele, todas as unidades de produção da Nestlé estão operando com 80% da produção. “Isso faz parte de um programa de produtividade que implantamos há cinco anos para buscar mais eficiência”. Desde então, segundo Zurita, a produtividade da Nestlé Brasil aumentou 70%. “Isso nos dá uma plataforma mais confortável para enfrentar a crise.”

Os R$ 350 milhões, entretanto, não incluem a verba de marketing, quem em 2009, de acordo com o presidente, será o dobro do que foi gasto em 2008. A empresa revelou apenas que está investindo R$ 80 milhões na campanha publicitária da cafeteira doméstica Dolce Gusto, lançada ontem (12), junto com a Arno. A máquina, que custará R$ 599 em lojas de eletroeletrônicos, funciona somente com cápsulas de café da Nestlé. “A máquina da Arno é diferente das outras porque não faz apenas café expresso. Ela prepara bebidas alternativas, o que nos difere da concorrência”, diz Zurita. A Nestlé espera faturar R$ 200 milhões em três anos com a venda das cápsulas e a Arno, R$ 40 milhões no mesmo período.

A matéria é de Lílian Cunha, publicada no jornal Valor Econômico.

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