No último mês, a retomada dos preços já foi sentida com maior intensidade na maioria das regiões do país. Apesar de atrasado em relação ao atacado e varejo, o aumento de preços ao produtor melhorou o ânimo geral do setor, podendo trazer expectativas para uma retomada da produção, caso esse cenário se mantenha. Oferta, consumo interno e o comportamento do mercado do leite longa vida continuam sendo fatores decisivos para definição dos valores praticados nos próximos meses.
Em maio, de acordo com o Cepea-Esalq/USP, o preço médio pago ao produtor teve alta de 5,9%, alcançando R$ 0,6625/litro, sendo que as principais justificativas para esse aumento são a redução do volume captado pelas indústrias e a elevação dos preços do UHT – em abril, a queda no volume captado, em relação ao mesmo mês de 2008, foi de 6,2%. A prolongada estiagem na região Sul do país, principalmente durante os meses de março e abril – período do ano preferencial para a instalação das áreas de pastagens de inverno -, prejudicou severamente a atividade, gerando um atraso de cerca de 30 dias para o início do período de maior produção de leite da região. Normalmente, a região Sul já tem uma retomada da produção em meados de junho, o que ainda não ocorreu esse ano, e deve começar a ser visto no final do mês ou mesmo início de julho.
O último relatório mensal divulgado pelo Rabobank, prevê um aumento nos preços do milho até o 1º trimestre de 2010, alcançando os patamares de preços do 1º trimestre de 2008, mas abaixo dos picos de preços observados no 2º trimestre do mesmo ano – o preço médio do grão negociado na Bolsa de Chicago no 1º trimestre/09 foi de US$ 140/tonelada, e o pico previsto para 1º trimestre/10 é de US$ 184/ton). Essa tendência deve-se à previsão de aumento da demanda mundial, às questões climáticas que prejudicaram a produção de importantes países exportadores, como Brasil e Argentina, e também devido à insegurança dos EUA frente a novas políticas econômicas adotadas pelo país.
Para a soja, o que se prevê, no mesmo relatório, é uma alavancagem dos preços até o 3º trimestre deste ano, que posteriormente voltam a cair, regressando aos patamares do início deste ano, no 2º trimestre de 2010 – a cotação média no 1º trimestre/09 para a soja, negociada na Bolsa de Chicago, foi de US$ 345/tonelada, e o pico de preços previsto para o 3º trimestre, deverá alcançar US$ 422,5/tonelada. A revisão de forte baixa para a produção Argentina, aliada à contínua e crescente demanda da China, são os fatores responsáveis pela alta de preços, nesse momento.
Gráfico 1. Receita menos custo de ração.
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Analisando o consumo interno, já se observa uma retomada da economia, estimulada principalmente pelo aumento, no primeiro trimestre de 2009, de 5,2% na massa salarial real, e de 22,1% no saldo de operações de crédito não direcionadas para as pessoas físicas. Os programas de assistência governamental também servem de forte amortecedor aos efeitos da crise – atualmente, 11 milhões de famílias estão cadastradas no Bolsa-Família. As classes D e E, que representam 42% da população e 34% dos consumidores, são as que menos sentiram os efeitos da crise. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o consumo das famílias cresceu 0,7% no 1º trimestre de 2009 na comparação com o último trimestre de 2008; na comparação com o 1º trimestre de 2008, o consumo das famílias de janeiro a março de 2009 cresceu 1,3%, registrando o 22º trimestre consecutivo (a partir de 2003) de expansão nesse critério.
Isso vem ressaltar, mais uma vez, que apesar das dificuldades econômicas e da renda mais comprometida, a demanda é um fator de peso menor nessa questão de mercado, uma vez que os gastos com alimentação não sofreram uma queda acentuada, até as análises feitas neste período. Contudo, temos que levar em consideração, no momento atual, a questão do aumento do preço do leite longa vida, que já se torna preocupante, devido a substituição do produto que começa a ser vista em algumas redes varejistas.
Desde os últimos dois meses, o longa vida vinha ganhando margem, no atacado e no varejo, consequência da oferta de leite reduzida e, particularmente no estado de SP, em função das questões fiscais e das dificuldades da Leite Nilza, que reduziu a oferta de produto no mercado paulista. No mês de maio, no entanto, os valores mostraram uma elevação ainda maior, chegando a níveis superiores aos registrados em 2007 – período também de forte alta no preço do produto. A forte competição pelas indústrias, aliada a uma demanda firme e ausência de estoques, resultou nessa alta de preços, refletindo, agora, nos preços ao produtor. Em pesquisa realizada pelo MilkPoint no varejo de Piracicaba-SP, o preço médio do litro do UHT na 1ª quinzena de maio (R$ 2,05), comparado à 2ª quinzena de abril, teve alta de 5,2%. Essa variação foi ainda mais alta entre as duas quinzenas de maio, sendo que na 2ª quinzena o valor (R$ 2,21) era 7,7% superior em relação à primeira. O valor médio do litro do produto em maio (R$ 2,13), ficou 12,06% acima do preço médio de abril (R$ 1,90). As informações de que não há grande quantidade de leite longa vida disponível pode ser comprovada, neste período, pelo tempo médio de prateleira (data de fabricação – data da pesquisa), que foi de 26 dias em abril e 18 dias em maio (gráfico 2).
Gráfico 2. Médias mensais de preços do leite longa vida integral e dias de prateleira, no varejo de Piracicaba-SP.
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Essa alta de preços do longa vida, apesar de ter contribuído para uma melhora dos preços ao produtor, traz a preocupação em relação ao consumo: até que ponto os aumentos de preços serão absorvidos pelos consumidores? Nos últimos dias, algumas grandes redes de supermercados do estado de SP já notaram a substituição do leite longa vida por leite pasteurizado, por leite em pó ou por bebidas à base de soja, e para esse último caso, o alerta deve ser ainda maior. Também informaram uma retração do consumo nos últimos dias. Os preços, no entanto, se mantêm elevados, mas já não sobem mais.
Para o próximo mês, a tendência é ainda de nova alta no preço pago aos produtores, de acordo com as fontes consultadas pelo MilkPoint. No pagamento de julho (referente ao leite entregue em junho), o aumento deve ser de 5 a 7 centavos, alcançando valores médios de R$ 0,70 – R$ 0,80/litro no Sudeste e Centro-Oeste, e de R$ 0,65 – R$ 0,75/litro no Sul. O mercado de queijos também mostrou recuperação nesse último mês – devido à queda da produção de leite e ao aumento da procura por parte das empresas de longa vida, gerando maior competição – sendo que o quilo da mussarela, no atacado, está sendo comercializado hoje entre R$ 9,00 e R$ 11,00 – uma alta de até 25%, quando comparado com os preços informados pelas mesmas fontes no mês de abril.
No mercado internacional, o panorama é preocupante: as cotações não mostram reação. No último leilão da Fonterra (02/06), o preço médio alcançado para todos os produtos e períodos contratuais para o leite em pó (WMP) foi US$ 1.886/ tonelada, posto na Nova Zelândia, valor 12% inferior ao do leilão anterior. Como reflexo do leilão, os preços de exportação dos lácteos na Oceania recuaram, sendo de 6,8% a queda no preço médio do leite em pó integral (US$ 2.050/t). No Oeste da Europa, os preços mantiveram-se estáveis em relação à quinzena anterior (após três quinzenas consecutivas de altas), ficando o preço médio da tonelada do leite em pó integral em US$ 2.625.
No caso do Brasil, o comércio internacional encontra-se praticamente estagnado, tanto nas exportações (preços externos ruins e câmbio desfavorável), quanto nas importações. A barreira às importações de lácteos da Argentina, através do licenciamento não automático, já mostra resultados: no mês de maio, foram importadas 3,03 mil toneladas de leite em pó (equivalente a 24,8 milhões de litros de leite), sendo 2,31 mil toneladas (76%) provenientes da Argentina (ao preço médio de US$ 2.1878/t) e 725 toneladas provenientes do Uruguai (preço médio de US$ 2.008/t). Vale lembrar que, no acordo estabelecido no final de abril com a Argentina, em relação às importações, estabeleceu-se como preço mínimo para a tonelada do leite em pó o valor vendido pela Nova Zelândia, e volume máximo de 3 mil toneladas por mês. Mas talvez esse acordo não seja suficiente para brecar as importações. Considerando a apreciação do real, as baixas cotações no mercado externo e o preço do leite em alta no mercado interno (especialmente em dólar), não será surpresa se vier leite de outras origens, como Nova Zelândia, Austrália e até União Europeia, mesmo pagando TEC de 27% e tarifas anti-dumping.