Longa Vida – O preço do leite longa vida aumentou 31,9% no varejo da Grande Curitiba, entre janeiro e maio. O quarto maior aumento no período, atrás de Santa Catarina (37,28%), Porto Alegre (33,18%) e Rio de Janeiro (32,62%), segundo pesquisa da empresa GfK que acompanha as oscilações de preços em 300 pontos de venda distribuídos pelo país. Só de abril para maio, o aumento registrado foi de 22,96% e, para os “bezerros de plantão”, a notícia não é das mais animadoras. “A entressafra vai até setembro quando os preços devem começar a recuar, mas até lá é possível que ocorram pequenas altas ainda”, prevê o veterinário Fábio Mezzadri, técnico do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab). A queda na oferta elevou de R$ 0,54, em janeiro, para R$ 0,59, em maio, o preço pago ao produtor. Aumento de 9,25%, próximo ao encontrado no varejo do Interior do Paraná, 9,53%, entre janeiro e maio deste ano. Apenas de maio a abril o aumento foi de 7,66%. O veterinário Fábio Mezzadri do Deral lembra que os preços nas Capitais tendem a serem maiores que aqueles encontrados nas cidades do Interior. No primeiro trimestre de 2009, a média nacional do preço do leite se manteve estável. A variação de preços de abril em relação a março foi de 3,82% e de maio em relação ao mês anterior de 14,31%, um acumulado de 18,13%. O crescimento foi observado em todas as marcas do mercado. Conforme as considerações da pesquisa da GfK, desde 2008, o preço do leite longa vida se mantinha estável e, em alguns momentos, registrou quedas. Assim, alguma alta já era esperada, mas não no nível em que ocorreu no mês de maio deste ano. “Ainda não é possível afirmar o porquê das mudanças, pois não houve alteração no consumo das famílias. (Bem Paraná/PR)
Preços – O leite longa vida está custando ao consumidor, neste mês, quase o dobro do que custava em março. Segundo o vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Martinho Paiva Moreira, o aumento já provocou uma redução de 5% no consumo de leite, comparando com o mesmo período do ano passado. “Os consumidores estão deixando de comprar leite longa vida. Estão trocando por leite em pó ou por bebidas à base de soja.” De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Leite Brasil), Jorge Rubez, “O preço do leite ao produtor não aumentou. Aumentou da porteira para fora”. O aumento que está sendo repassado ao consumidor pode estar se concentrando na indústria, no transporte do produto ou no varejo. Para os supermercadistas, no entanto, o aumento pode ser justificado pela queda na oferta do produto nas prateleiras dos supermercados, motivada por três razões: a entressafra; a quebra de algumas empresas envasadoras de leite por causa da crise econômica; e os problemas na cadeia produtiva. “Tanto os produtores quanto as empresas envasadoras de leite resolveram tentar recuperar um pouco das perdas que eles tiveram nos últimos dois anos e isso fez com que o preço do leite se posicionasse num patamar pouco acima do que era esperado”, disse Moreira. Embora tenham justificativas diferentes para o aumento do produto, tanto o vice-presidente da Apas quanto o presidente da Leite Brasil estimam que o leite não deve continuar subindo. (Estado de Minas)
Argentina – Os lácteos subiram 4,5% no mês de maio, acumulando alta de 17% em 2009. Nos supermercados de Córdoba subiram 7,55%, de acordo com levantamento feito pelo jornal em quatro supermercados (Carrefour, Wal-Mart, Disco e Libertad). Isso representa a metade dos 14,52% de aumento registrado no mesmo período de 2008, e 40% dos 19,41% apurados em 2007. Mas o aumento de janeiro a junho foi influenciado pelo leite fluido que subiu 33%. A substituição feita pela indústria do leite fluido comum pelo integral enriquecido com cálcio causou esse aumento no preço dos lácteos, mesmo com a queda de 3,8% no leite fluído comum (que raramente é encontrado), e 1,8% no preço da manteiga. Nos últimos 12 meses os lácteos aumentaram 28%. O leite cresceu 41,1% no mesmo período. (La Voz del Interior)
Espanha – O Índice de Preços na Origem e Destino dos Alimentos (IPOD), que acompanha a evolução mensal de 25 produtos da cesta básica na Espanha, foi 5,39 em maio. O IPOD apurado em abril foi 4,65. O índice das margens comerciais dos produtos agrícolas foi de 5,89, e os produtos de origem animal 3,33. Os pesquisadores dizem que o índice vem subindo ano a ano, e apesar da guerra comercial entre as grandes cadeias de distribuição para reduzir os custos, tanto os produtores como os consumidores sofrem abusos na origem e no destino. Como exemplo é citado uma salada (alface, tomate, pepino e cebola) que na origem o produtor recebe 0,60 e o consumidor paga 6,06 euros. (Frisona)
Chile – O setor lácteo tenta manter-se em pé, diante do terremoto que o sacode, mas os problemas parecem crescer e a situação para a produção primavera/verão é muito incerta. O resultado do último leilão da Fonterra é um mau sinal para produtores do mundo todo, e também para os chilenos. O preço do leite ao produtor que no final de 2007 era de 210 pesos, hoje está em torno de 130, mesmo com o aumento no custo de produção. O impacto se expressa na queda da recepção de leite (12% no primeiro trimestre de 2009), exportações nulas e resultados econômicos inquietantes para produtores e indústrias. As queijarias sofrem com a concorrência dos queijos argentinos e brasileiros, que chegam ao Chile com preços mais baixos que o custo de produção interno. Na Nova Zelândia a Fonterra reduziu em 14% o preço ao produtor, passando a pagar NZ$ 4,55 kg/MS. Em 2007 chegou a NZ$ 7,50. Também foi sintomática a queda de 19% no valor das ações da Cooperativa. (Fedeleche)
Subsídios – Renascem os subsídios. Logo depois do anúncio europeu de ajuda aos produtores com os preços de intervenção, os Estados Unidos reagiram com apoio às exportações. A Argentina, um país eficiente na produção, anunciou o aumento dos subsídios aos produtores. O que fará o Chile diante dessa onda? “Salvo Nova Zelândia, Austrália e Chile, todos os exportadores estão com subsídio. Isto para o Chile é um desastre”, disse Manuel Zamora, presidente da Exporlac. (Fedeleche)
Negócios
Tetra Pak – A Tetra Pak vai lançar, no dia 16, na Fispal, um sistema de controle de processamento e envase para detectar problemas na cadeia de alimentos. (Folha de SP)
Chocolate – Hershey’s e Ovomaltine, duas marcas tradicionais de chocolate e achocolatados, formaram uma parceria para lançar produtos no Brasil. O primeiro item dessa união é o tablete de 130 gramas chocolate Hershey´s Ovomaltine, no mercado há algumas semanas. Dois novos formatos devem chegar às prateleiras neste mês. A ideia das duas empresas é alavancar as vendas tanto dos chocolates Hershey quanto dos achocolatados Ovomaltine. O mercado de tabletes é o segundo maior dentro do negócio de chocolates, com 30% do volume vendido (perde só para os bombons, que têm 47% do total). A Hershey já tem uma boa posição no ranking das marcas mais vendidas do país, com o terceiro lugar, de acordo com o ranking da revista SuperHiper, da Associação Brasileira de Supermercados, com dados Nielsen. Garoto e Kraft Foods lideram as vendas. (Valor Econômico)
Cade – Perdigão e Sadia, que anunciaram em 19 de maio uma fusão para criar a Brasil Foods, registraram o negócio ontem, último dia do prazo, no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão deverá julgar o impacto concorrencial do negócio. Além do Cade, também receberam cópia dos documentos relativos à operação as Secretarias de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça, e de Acompanhamento Econômico (Seae), do Ministério da Fazenda. (O Estado de SP)
Cálcio – Pesquisadores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro comprovaram que uma dieta rica em cálcio pode ajudar e muito a perder a gordura da barriga. Na dieta de Rosa entravam três copos de 200 ml de leite desnatado por dia. As refeições eram controladas e os resultados animadores. Só de cintura ela perdeu 18 centímetros, sem falar do peso. “Nos cinco meses que fiz a dieta perdi 15 kg”, conta Rosa Maria Pereira do Nascimento, técnica de laboratório. No caso de Rosa, o leite, que é um dos alimentos mais ricos em cálcio, pode ter feito toda a diferença. Ela fez parte de uma pesquisa da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O estudo concluiu que o cálcio na dieta ajuda a diminuir a gordura corporal, principalmente no abdômen. Cinquenta pacientes obesos foram divididos em dois grupos: em um, a dieta não tinha quase cálcio. No outro as pessoas consumiam bastante o nutriente e nelas a perda da gordura abdominal foi bem mais significativa. Quase três centímetros de diferença. (Jornal Hoje/Rede Globo)
Setoriais
PIB – Pela primeira vez desde o segundo trimestre de 2005, o PIB agrícola teve queda em relação a igual período do ano anterior. O recuo foi de 1,6%, próximo da queda de 1,8% do PIB total, informou ontem o IBGE. A queda é explicada pelo desempenho menor de vários produtos que têm safra no primeiro trimestre. Uma das exceções foi o arroz, que teve produção 6,2% maior. O algodão caiu 19,7%; o milho, 13,2%; e a soja, 3,9%, segundo análise da Rosenberg & Associados. (Folha de SP)
Renegociação – Os produtores rurais têm até o final deste mês para renegociar as dividas de Pesa e securitização. Os débitos do crédito rural inscritos em Dívida Ativa da União dos programas de saneamento de ativos, Pesa e securitização, estão preocupando os produtores em todo o Brasil. De acordo com a lei, os produtores terão novos prazos para renegociação das operações de crédito rural. Dados do ministério da Fazenda de 2008 estimam o montante total da dívida agrícola em mais de R$ 87 bilhões. Os valores do Pesa ficariam acima dos R$ 14 bilhões, e do programa de securitização 1 e 2 acima de R$ 10 bilhões. (Canal Rural)
Economia
IGP-M – O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) voltou a subir na primeira leitura deste mês, devido a uma recuperação dos custos no atacado e a dissídios salariais em construção. O indicador subiu 0,29 por cento na primeira prévia de junho –que mediu a variação dos preços entre 21 e 31 de maio–, ante deflação de 0,52 por cento em igual período de maio, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) nesta quarta-feira. Entre os componentes do IGP-M, o Índice de Preços por Atacado (IPA) teve alta de 0,14 por cento na abertura deste mês, depois de cair 0,78 por cento na leitura inicial do mês passado. O IPA agrícola passou para o positivo, subindo 1,01 por cento ante queda anterior de 0,32 por cento. O IPA industrial recuou em ritmo menor, em 0,14 por cento ante 0,93 por cento na leitura anterior. As principais altas individuais de preços no atacado foram de leite in natura, soja em grão, açúcar cristal, farelo de soja e leite industrializado. (Reuters)
Fundo – O presidente Lula assinou, ontem, a medida provisória (MP) que libera R$ 4 bilhões para fundos de garantia de crédito para empréstimos a pequenas e médias empresas. A MP ainda traz R$ 1,95 bilhão para compensar ICMS a estados e municípios. (Correio do Povo/RS)
IPCA – Os produtos alimentícios registraram alta de 0,47% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, ante alta de 0,48% em abril, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A aceleração nos reajustes de preços dos alimentos foi provocada especialmente pelo leite pasteurizado, que subiu 9,77% em maio e representou a maior contribuição individual (0,10 ponto porcentual) para o avanço do indicador no mês passado. Outras altas importantes nos alimentos foram registradas em queijos (1,39%), leite condensado (1,12%), batata inglesa (14,77%) e cenoura (5,64%). (Agência Estado)
Globalização e Mercosul
Desemprego – A taxa de desemprego entre os 29 países que compõem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) atingiu em abril seu nível mais elevado em 15 anos, refletindo o peso da recessão sobre o mercado de trabalho mundial. O indicador subiu para 7,8% em abril, de 7,7% em março, superando a taxa de abril de 1994, disse o grupo. A taxa de desemprego entre os países que compõem o G-7 – Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido, Estados Unidos e Japão – subiu para 7,7% em abril, de 7,5% em março, a taxa mais elevada desde que os registros foram iniciados, em 1992, e 2,2 pontos porcentuais acima de abril do ano passado. Entre os 16 países que utilizam o euro, a taxa de desemprego subiu para 9,2% em abril, de 8,9% em março, 1,9 ponto porcentual acima dos 12 meses anteriores. (Agência Estado)
A emergência do Brasil no cenário mundial: como ficam os lácteos? |
A crise econômica mundial parece ter tido um efeito positivo para o Brasil. Mostrou a solidez do sistema bancário e reforçou a importância do sistema de suporte social governamental para manter viva a economia em épocas complicadas (Bolsa-Família + aumento real anual do salário mínimo desde 1996).
Dados compilados pelo Bradesco e apresentados no Seminário BM&F Bovespa, sobre Perspectivas para o Agronegócio em 2009 e 2010 indicam que o Brasil deverá estar entre os 10 países de maior crescimento econômico nestes dois anos. Para ser mais preciso, o Brasil deverá estar entre os países com menor queda no PIB, mas de qualquer forma está no pelotão da frente no quesito resistência à crise.
Segundo Octávio de Barros, diretor de estudos e pesquisas econômicas do banco, o Brasil já não disputa recursos: é visto como melhor alternativa para o longo prazo, junto da China, considerando risco e retorno.
É interessante que essa nova realidade (considerando que de fato são novos tempos) comprova o que dois estudos anteriores apontavam: o relatório da CIA (de 2004), sobre o Mundo em 2020, que colocava o país como um importante pivô regional, amplamente integrado com as principais economias mundiais; e o estudo do Goldman Sachs, de 2003, colocando o Brasil como a quinta maior economia do mundo (hoje, somos a décima), cunhando definitivamente o termo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), para definir as novas economias mundiais que polarizarão com os Estados Unidos, Europa e Japão.
O Brasil, logicamente, não é o único (nem o principal) país emergente que desfruta dessa posição de destaque. Na verdade, desde meados da década de 90, o PIB dos países emergentes vem crescendo bem mais do que o PIB dos países desenvolvidos. O gráfico abaixo, do FMI, mostra isso. Em vermelho, a variação do PIB das economias avançadas; em azul, das emergentes; em cinza, a média mundial.
Nesse novo contexto, o Brasil começa a se destacar. De acordo com Barros, a apreciação do real em 2009 reflete a percepção do mercado de que o Brasil tem trazido boas notícias para a economia mundial. Mesmo com a apreciação da moeda em um cenário de preços mais baixos para as commodities, o Bradesco prevê saldo positivo de mais de US$ 23 bilhões em 2009.
Tudo isso parece muito bom, e é. Mostra que o Brasil vem sendo visto de outra forma pelo capital. Mas há outro lado a se considerar. Parte significativa do crescimento dos países emergentes nas últimas décadas se deu pela migração da produção oriunda de países desenvolvidos, o chamado “outsourcing”. Buscando custos de mão-de-obra mais baixos, ambiente regulatório mais favorável e incentivos, muitas empresas fecharam ou reduziram atividades nas economias avançadas e investiram em países como os Tigres Asiáticos, Índia, China, México e Brasil, entre outros. Ficava impossível competir com salários chineses de US$ 60 mensais, por exemplo. Hoje, as empresas que produzem em solo norte-americano, canadense, europeu ou japonês precisam se reinventar, trabalhar com alta tecnologia, alto valor agregado ou serviços diferenciados para reduzir o peso dos custos inerentemente mais altos e recompensar o uso de mão-de-obra qualificada.
Essa recente apreciação do real e a contínua melhoria da distribuição de renda, reduzindo o número de integrantes das classes D/E e aumentando a classe média, parecem colocar o Brasil a meio caminho entre o paraíso do baixo custo verificado em países em desenvolvimento e a sofisticação tecnológica do então primeiro mundo.
Talvez haja algum exagero nessa afirmação; afinal, estamos longe, ainda, de ter renda per capita próxima dos países desenvolvidos. Mas estamos também bem longe de China, Índia e companhia. Em 2008 nosso PIB nominal per capita ficou pouco acima de US$ 10.000 (na 45ª posição); o da China, US$ 1.411; o da Índia, US$ 1.068. No bloco dos desenvolvidos, a Nova Zelândia teve PIB per capita nominal de US$ 30.000, os Estados Unidos, de US$ 47.000 e a Noruega, de US$ 81.000.
O que isso tem a ver com o leite? Depois de 2003, quando o risco-Lula atingiu seu ponto máximo e o dólar chegou a valor quase R$ 4,00, temos verificado uma apreciação da moeda brasileira, em grau superior à maior parte das moedas. Com isso, a competitividade do leite brasileiro vem sendo corroída, atingindo seu ponto máximo nesse exato momento, em que o real valorizado encontrou preços muito baixos para o leite no mercado internacional. No ano passado, o real valeu menos de R$ 2,00, mas o mercado internacional remunerava o leite a US$ 4.000, US$ 4.500. Ainda dava para brigar.
Vale lembrar que, ao ranquearmos nossa competitividade relativa em diversas cadeias do agronegócio, o leite não é exatamente nosso produto mais competitivo. Carne bovina, soja e etanol, por exemplo, aguentam conjuntura externa mais desfavorável do que o leite aguenta.
E há dados mostrando isso. No levantamento anual do IFCN, que compara dados de custos de produção em fazendas localizadas em diversos países utilizando a mesma metodologia de custos, nossa posição em 2007 não foi muito confortável (tabela 1). Estamos na terceira faixa de custos, de um total de cinco. E, para 2008, a tendência é piorar.
A pergunta que se faz é: pois bem, se o Brasil está entrando em uma nova fase realmente, se começa a ser visto como economia segura, se não disputa mais recursos, como disse Octávio de Barros, será que teremos custos mais elevados a ponto de dificultar nossa expansão no mercado internacional de lácteos, considerando ainda que não temos as mesmas vantagens comparativas inatas que outras cadeias do agronegócio têm?
Analisando hoje (veja gráfico abaixo), nossos preços de leite estão cada vez mais próximos dos preços norte-americanos e mais distantes dos preços sul-americanos e neozelandeses. No caso argentino, por exemplo, a desvalorização do peso, refletindo a situação econômica complicada do país vizinho, traz competitividade para o leite. A Conaprole, principal cooperativa uruguaia, anunciou preços de US$ 0,22/litro. Nós já estamos acima dos US$ 0,33/litro.
Gráfico 1. Preços do leite ao produtor (obs: sem correção para o teor de sólidos).
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Há, claro, algumas ressalvas. Primeiro, falar em custo médio de produção no Brasil é complicado. A variação em uma mesma região é grande e superior à variação entre regiões. René Machado, da DPA, apresentou dados no Interleite Sul 2009, em Chapecó, mostrando que os custos variaram de R$ 0,45 a quase R$ 1,00 por litro, sendo esse espectro semelhante em todas as regiões estudadas. Provavelmente, se cada produtor desses fosse colocado no quadro acima, teríamos ampla distribuição, indo dos mais competitivos aos menos competitivos.
Segundo, nem todos os países terão condições para aumentar a produção, coisa que o Brasil possui, e de sobra. Nova Zelândia e Austrália são dois exemplos claros: não basta ser competitivo; é preciso ter condições (área, água) para produzir, o que estes dois países não têm, ao menos em grande volume.
Terceiro, é possível que a situação atual do mercado externo seja transitória. Em 2010, com alguma retomada do crescimento mundial e com o desestímulo na oferta, é esperada uma recuperação de preços para os lácteos. Esse aspecto, aliado ao segundo item, coloca novamente o Brasil na briga. Mas, de qualquer forma, é desconfortável ter uma posição intermediária na tabela de competitividade, dependendo de fatores “extra-campo” para fortalecer sua presença no mercado externo.
Se tudo isso for verdade, nossa posição no mercado externo precisa ser revista. De um lado, temos de identificar os produtores e sistemas mais competitivos e buscar na expansão desses modelos a competitividade antes garantida pela nossa fragilidade econômica, que desvalorizava a moeda. De outro, teremos de agregar valor. Afinal, há a hipótese de não sermos o grande abastecedor mundial de commodities lácteas produzidas a baixo custo. O desafio, nesse caso, seria muito maior.